Por Andrew Cawthorne e Alexandra Ulmer
CARACAS, 4 Mai (Reuters) - Apoiantes da oposição da Venezuela ocuparam a principal via pública de Caracas na quarta-feira para protestar depois do presidente de esquerda Nicolás Maduro ter convocado uma assembleia extraordinária, o que veem como uma manobra para evitar eleições livres e permanecer no poder.
Jovens que comandavam o protesto atearam fogo e lançaram pedras contra as forças de segurança, que dispararam gás lacrimogéneo para interromper a mais recente manifestação contra Maduro.
Milhares de partidários da oposição reuniram-se pacificamente por várias horas antes de serem bloqueados, provocando confrontos entre jovens mascarados e tropas da Guarda Nacional.
Pelo menos 33 pessoas morreram e centenas foram feridas e detidas desde que os distúrbios anti-Maduro começaram, no início de abril.
Capitalizando um mês de manifestações amplas e contínuas, líderes opositores prometeram mais ações nas ruas desde o anúncio de Maduro, feito na segunda-feira, de que estava a criar uma Assembleia Constituinte com poderes para reescrever a constituição.
O governo diz que a violência relacionada com os protestos e a indisponibilidade da oposição para conversar deixou Maduro sem opção além de reformular o aparelho governamental do país.
"Com esta Assembleia Constituinte, a situação fica pior do que nunca", disse Miren Bilbao, de 66 anos, no meio da estrada Francisco Fajardo com um grupo de amigos e parentes.
"É uma ferramenta para evitar eleições livres. Estamos a protestar há 18 anos, mas esta é nossa cartada final. É tudo ou nada."
Milhares percorreram a rodovia, que atravessa o principal vale de Caracas. Mulheres vestidas de branco acenavam com bandeiras venezuelanas e dezenas de jovens mascarados se reuniram na dianteira da marcha.
A oposição quer adiantar a eleição presidencial de 2018 face a uma crise económica devastadora, e diz que o decisão de Maduro é um estratagema cínico para levar os cidadãos a pensarem que fez concessões, quando na verdade tenta manipular o sistema para evitar eleições que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) provavelmente perderia.
A medida do presidente foi condenada pelos Estados Unidos e por alguns países latino-americanos, inclusive o Brasil, que a classificou como um "golpe".
Durante um encontro com autoridades eleitorais na quarta-feira, Maduro disse que a votação que irá compor a nova assembleia acontecerá nas próximas semanas. Adiantou que 500 de seus membros serão eleitos por grupos sociais, incluindo trabalhadores, indígenas e agricultores, e também dos municípios.
"O novo processo constituinte a começar hoje irá consolidar a República e trazer à nação a paz que ela merece", disse Maduro. (Reportagem adicional de Andreina Aponte, Corina Pons, Brian Ellsworth, Deisy Buitrago e Eyanir Chinea em Caracas, Patricia Zengerle em Washington) (Traduzido para português por Sérgio Gonçalves)